sábado, 19 de fevereiro de 2011

(amar)garida

Certa vez me acerquei do assunto das flores, quis adentrar àquele mundo e também possuir uma infinidade de cores e fragrâncias. Quis me tornar flor, viver em companhia do vento mas lembrei que fui criada para correr pelos campos e plantar sementes.
Já que não poderia me juntar a elas, quis juntá-las a mim. Passei dias a escolher dentre todas a flor mais bonita, até que escolhi a margarida mais radiante do jardim. Durante muito tempo arquitetei nossa fuga, vislumbrei todo o mundo que tínhamos a descobrir, os sonhos que se concretizariam. Como era lindo imaginar o mundo só comigo e minha flor.
Depois de infindáveis dias de espera tomei coragem e resolvi buscá-la. Tinha certeza de que era o momento certo de viver ao seu lado, ela pela qual eu tanto esperei. Fui ao jardim, e cortei o seu cabo. E desde então passei a levá-la a todos os lugares, mas a minha margarida não aguentou muito tempo, bastaram alguns dias para que ela morresse. Foi então que dei-me conta do erro.
Olhando para os fiapos do meu umbigo quis tê-la a qualquer custo, quando na verdade eu não estava preparada para fazer dela a minha flor, transformei sua liberdade em seiva a escorrer pelo cabo. Foi arrancando pétalas e colhendo saudade que eu fiz o meu canteiro.



 Marina Boni

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Sem tempo para um título...

Amarrou os sapatos, desceu do ônibus, se apressou a dar corridinhas a fim de aproveitar o semáforo fechado, olhou as revistas da banca, sem parar é claro, pois nessa vida de cidade grande todo tempo é aproveitado, e quase sempre mal aproveitado.
O relógio da estação marca oito horas, como todos os dias o homem atrasado está a correr pela avenida. Foi com tamanha pressa que ele passou por entre os bancos da praça e nem notou o pacote de dinheiro que lá estava. Mas que contradição da vida, o homem corria para trabalhar seis horas e não ganhar nem a metade da quantia depositada no chão. Teve sua grande chance e correu.
Talvez se ele não corresse tanto, e estivesse mais atento o desfecho fosse outro. Mas sinceramente não me importo com tal sujeito, por menor dos males ele “perdeu” dinheiro. A maioria das pessoas perde a vida. Não devotam atenção às sensações. Não sabem o cheiro da chuva, pois estão ocupadas demais em não molhar-se. Não sabem o gosto da couve-flor, pois só tem quinze minutos para almoçarem. Não tem tempo para escutar, pois reclamam demais.
É uma pena a grandiosidade do ser humano ser reduzida a isso e estar sempre condicionada a minutos e tarefas. Mas de que importa discutir tais fatos, muitos nem terão tempo para ler esse texto..

                                      Marina Boni