Certa vez me acerquei do assunto das flores, quis adentrar àquele mundo e também possuir uma infinidade de cores e fragrâncias. Quis me tornar flor, viver em companhia do vento mas lembrei que fui criada para correr pelos campos e plantar sementes.
Já que não poderia me juntar a elas, quis juntá-las a mim. Passei dias a escolher dentre todas a flor mais bonita, até que escolhi a margarida mais radiante do jardim. Durante muito tempo arquitetei nossa fuga, vislumbrei todo o mundo que tínhamos a descobrir, os sonhos que se concretizariam. Como era lindo imaginar o mundo só comigo e minha flor.
Depois de infindáveis dias de espera tomei coragem e resolvi buscá-la. Tinha certeza de que era o momento certo de viver ao seu lado, ela pela qual eu tanto esperei. Fui ao jardim, e cortei o seu cabo. E desde então passei a levá-la a todos os lugares, mas a minha margarida não aguentou muito tempo, bastaram alguns dias para que ela morresse. Foi então que dei-me conta do erro.
Olhando para os fiapos do meu umbigo quis tê-la a qualquer custo, quando na verdade eu não estava preparada para fazer dela a minha flor, transformei sua liberdade em seiva a escorrer pelo cabo. Foi arrancando pétalas e colhendo saudade que eu fiz o meu canteiro.
Marina Boni